Setor projeta expansão de 10% no número de vendas e lançamentos
São Paulo — Na semana passada, uma delegação de empresários brasileiros esteve no Azerbaijão, ex-território soviético na região do Cáucaso, para vender otimismo e centenas — talvez milhares — de opções de investimento no Brasil.
O objetivo principal foi mostrar aos investidores locais que existem grandes janelas de oportunidade, especialmente depois da recessão econômica dos últimos anos, que deixou o Brasil mais barato em relação aos principais países emergentes.
Quase no fim da turnê, na quinta-feira passada, a viagem ganhou um sabor especial para Flavio Amary, presidente do Secovi-SP, maior sindicato da habitação do Brasil. Ele recebeu, em primeira mão, os números que comprovam o reaquecimento da indústria da construção civil. Pelos cálculos do Secovi, as vendas em março alcançaram 2.613 unidades residenciais novas na capital paulista. O resultado representa alta de 80,5% em relação às 1.448 unidades comercializadas no mês anterior. Comparado ao volume de 1.233 imóveis comercializados em março de 2017, o crescimento foi de 111,9%.
“Esse desempenho mostra que a recuperação do setor está em curso, impulsionada por medidas macroeconômicas acertadas que estimulam a confiança e criam um momento de oportunidades”, afirmou Amary. “Reação semelhante também foi observada em diversas regiões do país, com impactos em diferentes segmentos.” Em todo o Brasil, ainda pelos dados do Secovi, no acumulado de 12 meses (março de 2017 a fevereiro de 2018) foram comercializadas 25.349 unidades, um aumento de 60,4% comparado ao mesmo período de 2017, quando as vendas totalizaram 15.804 unidades.
O mercado imobiliário nacional, segundo Celso Pertrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), terá expansão de 10% em lançamentos e vendas neste ano. “Se a reforma da Previdência tivesse sido aprovada, teríamos expectativa ainda mais otimista”, diz Petrucci.
Em 2017, os lançamentos de imóveis aumentaram 5,2% na comparação com o ano anterior, para 82.343 unidades, segundo a CBIC. As vendas cresceram 9,4%, para 94.221 unidades. Por região, foram registradas altas no Nordeste (29%), Centro-Oeste (22,7%) e Sudeste (7%). Na região Norte, as vendas tiveram queda de 30,9%. No Sul, a retração foi de 4,5%.
Confiança
De fato, em grande parte do país, mesmo que não apresentem desempenho proporcional aos números de São Paulo, é visível uma recuperação, alimentada especialmente por uma percepção generalizada de melhoria do ambiente de negócios. De acordo com o Índice de Confiança da Construção (ICST), elaborado pela FGV/Ibre, o ritmo de expansão acompanha o cenário já observado no fim de 2017, que fechou em 81,1 pontos. Trata-se do maior nível desde janeiro de 2015.
Segundo a coordenadora de Projetos de Construção da Fundação Getúlio Vargas, Ana Maria Castelo, os resultados do primeiro trimestre de 2018 mostram que a confiança do setor está aumentando para fechar março com alta relevante, aos 82,1 pontos. “O crescimento da economia deve melhorar o crédito para a indústria avançar, e o contexto político será muito importante para essa retomada, já que os efeitos da Lava-Jato abalaram a confiança nacional”, disse.
Os números são positivos não apenas no segmento de vendas de imóveis novos, como também no de usados e de aluguéis, segundo o presidente do grupo Zap Viva Real, Lucas Vargas. Para ele, a queda das taxas de juros e a restauração das linhas de crédito para a compra da casa própria, especialmente com o aumento do limite de financiamento da Caixa de 50% para 80%, estão reaquecendo o mercado. “Tradicionalmente, o setor da construção demora mais tempo para se recuperar de crises, já que os ciclos, do lançamento do empreendimento até a entrega das chaves, são mais longos”, afirma Vargas. “Mas estamos confiantes que esse crescimento irá se manter pelos próximos meses.”
Uma pesquisa feita pelo Zap Viva Real mostra também uma reversão na queda de preços dos imóveis – um termômetro claro de aumento da demanda. De acordo com o levantamento, os preços das unidades residenciais, que perderam feio para a inflação em 2015 e 2016 (com quedas reais de 8,5% e 5,5%), passaram a cair apenas 3,3% a partir de 2017, e, no primeiro trimestre de 2018, diminuíram o ritmo de queda real para os 2,5% anuais.
A queda tem variado entre cidades, sendo ainda puxada pelo Rio de Janeiro, onde os preços encolheram nominalmente 4,9% nos últimos 12 meses em decorrência da crise que afeta do estado. Em São Paulo, houve aumento nominal de preços de 1,5% no mesmo período.
Florianópolis foi a estrela dos últimos 12 meses, com crescimento de preços nominal de 5,3%.
Locação
No front de locação, os números de 2018 são animadores para os proprietários de imóveis. Apenas nos primeiros dois meses, os preços de aluguéis residenciais da cidade de São Paulo aumentaram nominalmente 2,3%, bem acima do IPCA de 0,7% e do IGPM de 1,5% no mesmo período. Altas expressivas nos valores nominais de aluguel residencial, no primeiro bimestre de 2018, também foram verificadas em Goiânia (4,0%), Salvador (3,8%), Florianópolis (3,4%) e Recife (2,9%). Detalhe: os preços de aluguel residencial vinham caindo mais do que os preços de venda.
Para o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Antonio França, o setor imobiliário conseguirá crescer de forma robusta quando houver a definição de um marco regulatório para os distratos, como são chamados os casos em que o comprador desiste do imóvel e recebe de volta até 90% do valor pago. “Esse problema é como um câncer no setor e precisa ser combatido”, afirma França. “Em três anos, os distratos geraram 1 milhão de demissões”. Nas próximas semanas, espera-se que a Câmara dos Deputados vote a o Projeto de Lei que poderá definir novas regras para o setor. “Com mais clareza e segurança jurídica, o mercado tem tudo para crescer de maneira consistente”, diz França.
Fonte: Jornal Correio Braziliense